RPR News: COLUNA DO EMPRESÁRIO – Saúde e Segurança: cautela, prevenção e a crise da pandemia do Covid-19


Selene Barreto é Psicóloga Clínica e consultora em Empresas. Pós-graduada em Prevenção de Drogas pela Universidade Candido Mendes, com MBA em Gerência de Saúde, EPGE/FGV, é Fundadora e Diretora da Evolução Clínica e Consultoria, desde 2003. Foi responsável pelo Desenvolvimento e Implementação de Sistema de Tribunais para Dependentes Químico, em parceria com Consulado Americano e National Drug Court Institute, em 1999; Diretora de Responsabilidade Social da REDE PETRO RIO 2019 – 2021; Vice-Presidente da ABEAD (Associação Brasileira de Estudo de Álcool e Drogas), de 2013 a 2015; e Presidente da ABRAD (Associação Brasileira de Álcool e Drogas) nos períodos de 1998 a 2000 e de 2004 a 2006.


Nesta temporada de quarentena pela qual estamos passando decorrente dessa pandemia que está parando o mundo, o isolamento físico, a angústia de ver as notícias, ver pessoas próximas adoecendo e morrendo, o medo e a ansiedade do amanhã, mudanças de hábitos e de postura frente a vida, tem levado milhões de pessoas ao isolamento pessoal e familiar. Alguns sentimentos e posturas, com intensos sofrimentos em alguns momentos de maior impacto, têm levado muitas pessoas a distúrbios e desequilíbrio emocionais importantes. Na busca de saídas e alívio dessa situação, dentre as chamadas “válvulas de escape”, para aliviar tais sofrimentos emocionais, muitas pessoas têm procurado no consumo de bebidas alcoólicas algum alívio e relaxamento. Assim, passam a beber em casa, de forma rotineira e crescente, não só nas refeições, mas, também, em outros momentos, fazendo com que aumente os riscos do uso abusivo e dependência com as conhecidas consequências e prejuízos.

O consumo abusivo pode ocasionar problemas diversos nas esferas: individual (ex.: saúde), familiar (ex.: violência doméstica), social (ex.: acidente de trabalho) e econômico (ex.: gastos com a saúde). Neste sentido, não podemos deixar de chamar a atenção para repercussões entre os trabalhadores e empresas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecendo esse risco, recomenda que haja ações que advirtam sobre o abuso de álcool durante a quarentena. As empresas também precisam desenvolver, nesta época, iniciativas com foco na Saúde e na Segurança, tanto para os que estão no local de trabalho quanto para os que estão no regime de home-office.

Os empregadores e empresários devem manter os habituais programas de Prevenção: Universal, Seletiva e Indicada, desenvolvidas pelas equipes de Recursos Humanos, Segurança e Saúde e QSMS das empresas, como estratégia da política de trabalho. A cada dia tem se comprovado que o consumo de álcool e outras drogas no ambiente laboral, têm afetado a vida de boa parte da população trabalhadora, ou seja, 96  milhões de trabalhadores brasileiros segundo o IBGE, trazendo significativos prejuízos para empregados e empresas, como podemos observar no quadro abaixo:

Organizações

Observações – PRAD*
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2014 O Brasil está entre os cinco primeiros países do mundo em número de acidentes no trabalho, ou seja, em média 500 mil por ano, sendo que quatro mil deles resultam em morte.
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2014 De 20% a 25% dos acidentes de trabalho no mundo envolvem pessoas sob efeitos de substâncias psicoativas. No ambiente de trabalho, o uso indevido de álcool e outras drogas afetam até 15% dos empregados.
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2015 Aumento de cinco vezes as chances de acidentes de trabalho, sendo responsável por 50% do absenteísmo e licenças médicas.
Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2015 O uso de álcool e outras drogas no local de trabalho é um problema de saúde pública e deve ser abordado sem discriminação.

Ministério da Previdência Social – 2015

Impacto na Previdência

Em média, 125 pessoas foram afastadas do trabalho por dia no ano de 2015, em todo o país, por problemas de saúde decorrentes do consumo de álcool e outras drogas.
Organização das Nações Unidas (ONU)

Relatório Anual sobre Drogas de 2017

Cerca de 5% da população mundial usaram drogas pelo menos uma vez na vida no último ano. Segundo dados, da pesquisa e que um total estimado de 30 milhões de pessoas dependem destas substâncias, e consequentemente, necessitam de acesso a reabilitação e de tratamento.

*PRAD – Problemas Relacionados ao Álcool e outras Drogas.

Neste grave momento que estamos vivendo, a Pandemia do Covid-19, como já foi observado em outros países, no Brasil, no auge da crise, estamos presenciando as graves consequências no âmbito da Saúde e da Economia, com milhares de mortes e o iminente colapso da rede hospitalar / carência de leitos de CTI, com perspectivas reais de agravamento se as medidas de isolamento e outras ações não forem efetivamente implantadas de imediato. Em face deste cenário de elevado stress e preocupação no que tange à população de trabalhadores e às empresas, diante das sérias ameaças de desemprego e falências, e diante das incertezas e carências de efetivo socorro por conta do Governo, entidades financeiras e outros órgãos da sociedade civil, repercussões, de maior ou menor intensidade, sobre o estado psíquico e emocional dos trabalhadores, assim como da população em geral, serão inevitáveis. Assim, urge que as empresas adotem medidas estratégicas de prevenção referentes ao já constatado aumento do risco de consumo de bebidas alcoólicas e de drogas entre os trabalhadores, neste momento de grandes dificuldades e de tantas perdas que o mundo está vivendo.

É da mais alta importância, como podemos observar no quadro abaixo, adotar as mais diversas iniciativas, com foco na melhor, nos vários níveis de prevenção, nas melhores ações de qualidade de vida e nas ações de saúde e segurança no ambiente de trabalho no local e nas formas à distância (home-office).

O “Foco na Prevenção” precisar ser mantido, mesmo neste momento de crise, sendo dirigido para os comportamentos de risco e assim aumentar a segurança e saúde do trabalhador.

Níveis de Prevenção neste momento de Crise e na Pós Crise para as Empresas:

Níveis de Prevenção: Alguns exemplos de Prevenção nas empresas
Universal: visa a todos os empregados da empresa levando informação e educação.
  • Fazer Lives com os coordenadores, supervisores e chefias informando sobre os Problemas de Álcool e outas Drogas (PRAD) na empresa e home-office;
  • Fazer Lives com os empregados falando do beber responsável;
  • Fazer Vídeos educativos sobre PRAD e suas consequências na pandemia;
  • Pergunte ao Dr., uma Live de perguntas e respostas, sobre a vulnerabilidade ao uso de álcool e o cigarro  com a Covid-19.

Seletiva: destinada aos subgrupos que trabalham nas áreas de maior risco nas empresas.

  • Fazer Lives levando informação com foco em SMS, de forma intervencionista nos comportamentos de risco;
  • Reforçar, informar e intensificar a importância dos EPIs (equipamentos de proteção individual) de forma objetiva: que são os acessórios utilizados pelos trabalhadores com a finalidade de proteção física e a forma subjetiva: os exames toxicológicos que terão o intuito de protegê-los dos riscos capazes de ameaçar a sua segurança e a sua saúde;
  • Profissionais da Saúde e ou do RH motivarem a procura espontânea de ajuda quando necessário em atendimento On-line / telemedicina;
  • Transmitir pela Live ou EaD ou pequenos vídeos orientações / informações técnicas científicas, atenção básica de Saúde, Programa de Tabagismo, orientação quanto ao automedicamento etc.
Indicada: atua nas pessoas que já apresentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
  • Todos terem conhecimento da Política de segurança da empresa e buscar ajuda quando necessário;
  • Equipes de Saúde e de RH já preparada para intervir e indicar para profissionais especializados avaliarem o PRAD;
  • Criar um Programa Saúde Mental onde consiste em promover acompanhamentos médicos e psicológicos de forma preventiva.

Atenção nas ações de segurança e de prevenção continuadas, são fatores de grande importância para empregados e para empresas, seja uso de equipamentos, proteção individual (EPIs) na segurança objetiva, seja na segurança subjetiva, quando se toma cuidados e responsabilidades nas condutas e comportamento seguros, considerando sempre a perspectiva do melhor e mais seguro ambiente de trabalho para todos. Assim, com união, prevenção, cooperação, solidariedade, mútua ajuda e confiança, atravessaremos esta crise da Pandemia do Covid-19 e, cresceremos…, retomaremos a vida agregando mais valor nas relações humanas e com o meio ambiente.

Selene Franco Barreto

Diretora da Evolução Clínica & Consultoria

selene@evolucaovida.com.br

www.evolucaovida.com.br