Respirar é preciso… E viver também é preciso.

(O simples e vital ato de respirar)

Por: Maria Aparecida e Monique Santos, Jornalista. Texto baseado em artigo escrito e divulgado pelo Dr. José Mauro Braz de Lima, PhD – Diretor Médico da Clínica Evolução (Rio de janeiro)

No dia 31 de maio comemora-se o Dia Mundial de Combate ao Tabagismo como parte da campanha promovida pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Como é conhecido, o uso do cigarro está relacionado a diversas doenças que leva milhões de pessoas a morte. Dentre as doenças do Tabagismo mais emblemáticas, as que levam a falência respiratória, como Enfisema ou DPOC, são as principais causas de morte: falta de oxigênio! Por outro lado, estamos vivendo hoje uma das graves e sérias crises sanitárias que a nossa civilização enfrentou: a Pandemia do Covid-19, que tem levado milhões de pessoas a morte através de doença pulmonar infeccioso-inflamatória grave responsável por inexorável quadro de falência respiratória.

Por acaso, hoje está fazendo um ano do triste episódio da morte de George Floyd, afro-americano assassinado pelo racismo estruturado como foi divulgado pela mídia nos EUA e no mundo. Causa morte: joelho do policial sobre o pescoço da vítima que levou à asfixia fatal (“I can’t breath”). Soma-se ainda aqui outra dramática que a humanidade vivencia com preocupação nos dias atuais e que converge para a questão central: a progressiva redução do nível de oxigênio relacionada com a destruição do Meio Ambiente (desmatamento crescente, poluição do ar, dos rios e dos mares, aquecimento global, redução de reservas de água doce,…). Sendo o Oxigênio presente no ar atmosférico que torna possível a vida no nosso planeta, podemos imaginar como tais cenários acima são convergentes com o ponto central: respirar é preciso… viver também é…

Estes quatro contextos que parecem ser diferentes, na verdade, são semelhantes e estão intrinsicamente interligados por mostrar a necessidade de refletirmos sobre as responsabilidades que todos temos diante de tais situações e desafios. Dentre de outros inúmeros problemas que afetam a qualidade de vida da humanidade, sobretudo na atualidade, com o acelerado aumento de demandas de uma enorme população global, refletir sobre estes quatro problemas já permite ver o enorme desafio que se apresenta em nível planetário.

Servem também para vermos que não existe muito mais tempo para se poder agir de modo efetivo e resolutivo, a custa de ser tarde para recuperação dos estragos feitos.

O Dr. José Mauro Braz de Lima (*), médico neurologista, em um de seus artigos, nos levou a fazer esta interessante reflexão contextualizada sobre o poema “I Can´t Breath” (“Eu não consigo respirar”) do pediatra canadense Dr. Dzung Vo, de Vancouver. O poema descreve com total sensibilidade às vicissitudes, sofrimentos, violência, a falta de empatia com o próximo e todas as mazelas enfrentadas pela raça humana nos últimos tempos.

Tendo lido marcante poema no Dia Mundial Sem Tabaco, sentiu-se envolvido e motivado a fazer algumas considerações e reflexões sobre a ligação dos pontos de convergência entre os eventos convergentes pelo fato comum, ou seja, as mortes pela grave pneumonia do COVID-19, a morte por asfixia do negro americano George Floyd e as mortes por doença pulmonar crônica do Tabagismo (Enfisema, DPOC,…) e a redução do nível de O2 na atmosfera devida à Crise do Clima que vem aumentando nos últimos anos e ameaçando a vida na Terra.

Temos vivido momentos muito difíceis nessa pandemia do Covid-19 com suas terríveis consequências sanitárias e mortes de centenas de milhares de pessoas em todo mundo. Isolados em casa pela sua quarentena, lojas com restrições de funcionamento, lockdown, toque de recolher e com o direito de ir e vir totalmente comprometidos pela pandemia. Nos tornamos espectadores angustiados de um cenário que mostra uma das mais séria e grave crise sanitária, social e econômica da história moderna. Mesmo com o início da vacinação em todo mundo ainda estamos longe de nos livrarmos desse vírus, principalmente aqui no Brasil, que ainda responde pela incrível demanda de leitos de CTI, na maioria das vezes causando superlotação no sistema de saúde, decorrente da severa e grave doença pulmonar aguda com falência respiratória (Síndrome Respiratória Aguda Grave) com alta taxa de letalidade”, esclarece doutor José Mauro.

De forma muito impactante a morte brutal e violenta do negro americano George Floyd, vítima da ação inescrupulosa e cruel de um policial branco, em Minneapolis, chocou o Brasil e o mundo em 24 de maio do ano passado. Esse também é um ponto de convergência que potencializou o sofrimento de toda uma nação pelos impactos da pandemia, e foi o estopim para um dos mais graves protestos das últimas décadas desde a morte de Martin Luther King. As dores da morte de Floyd, entretanto ainda são sentidas um ano depois, mesmo com a condenação do culpado, Derek Chauvin, em 20 de abril de 2021.

“É claro que outros problemas da sociedade moderna, não só a americana, estão sufocando ou asfixiando as pessoas, o que Freud já falava, de certa forma, no seu magistral e atual livro “O Mal-Estar na Civilização” (1930), ele ressalta as diversas formas de “sufoco” ou “asfixia” representadas pela desigualdade social, desemprego, dificuldades econômicas, falta de acesso adequado aos serviços de saúde e de educação, de lazer e de bens culturais, entre outras carências de uma vida cidadã com mínimo de qualidade e dignidade possíveis”, alerta o PhD José Mauro.

Para ele, “apesar de tudo isso, envolvido na contemplação da linda e brilhante manhã de um domingo de sol, olhando da minha varanda o bonito verde das árvores e os passarinho habituados a vir buscar seu alpiste como café da manhã,…”, devemos estar consciente dos cuidados recomendados como o uso de máscaras, distanciamento social e de higiene constantes das mãos e objetos, além do programa de vacinação em curso. Não tem como deixar de ficarmos tristes e preocupados com as nossas vidas e com o amanhã. ”Como será o amanhã? Pergunte a quem puder”…, como diz a letra o samba-enredo de uma Escola de Samba do Rio…” reflete o Dr. José Mauro.

Segundo o doutor, ter consciência de que precisamos seguir em frente e praticarmos a resiliência é de suma importância. Contudo, tomado por esse sentimento ambivalente de se sentir grato por poder desfrutar esta bela manhã e, ao mesmo tempo, consciente da nossa frágil condição humana, nos deparamos novamente com um instigante poema “I can’t breathe”, onde a angústia que sofremos quando temos dificuldade de respirar, tanto por doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) resultante do Tabagismo, quer seja pelo grave quadro de pneumonia aguda do Covid-19 (SARS) que nos torna indefesos e vulneráveis, quanto pela violência exemplificada no caso da asfixia provocada pelo joelho do policial americano sobre o pescoço do George Floyd, ou por tantos outros problemas que nos sufocam durante nossa existência.

Ele considera que desde o nosso nascimento experimentamos, sem perceber, que passamos por diversas situações de angústia respiratória aguda ou crônica provocada por doenças, ou por violências, ou pela redução da concentração de oxigênio na atmosfera decorrente da crise do clima, ou mesmo na hora do parto em que passamos pelo momento crítico do respirar fora do útero materno. Ao nascer ficamos alguns por alguns rápidos instantes diante da angústia respiratória vivida como ameaça de morte iminente; é neste momento em que o cordão umbilical que nos une ao organismo materno que trazia nosso oxigênio deixa de funcionar. Aqui podemos ter uma clara percepção do quanto dependemos do ar, do oxigênio, e que hoje vivemos o dramático momento em que a oferta do oxigênio está sendo preocupante ameaçada de enfim do Meio Ambiente que a espécie humana nosso “Admirável Mundo Novo” (A. Huxley) teima em degradar.

“Neste momento pelo qual estamos passando agora é da maior importância chamar a atenção para essa interessante convergência: o elo comum entre os quadros referentes às angústias respiratórias como nos adverte o providencial texto do citado poema. Essa delicada e vulnerável condição da dificuldade respiratória comum às três situações em que a falta de oxigênio (O2) nos leva a morte, seja também uma advertência para tomada de consciência das mazelas que provocamos, sem perceber que estamos produzindo no nosso indefeso planeta”.

Assim, algo impactado ao ler este texto do médico canadense, somos levados a fazer essas considerações contextualizando a relação entre os acontecimentos citados. De certo modo, o desfecho final comum é a morte marcada pela asfixia ou falência respiratória. E aí, voltando para a questão do Tabagismo, fica evidente que o ato de fumar ou inspirar a fumaça a cada tragada, significa jogar para os pulmões uma mistura rica em gás carbônico (CO2) e pobre em oxigênio (O2), no sentido “inverso do recomendado pela natureza”, avalia o PhD José Mauro.

Desta maneira, fumar vinte cigarros por dia, por meses e anos a fio, representa o processo de “asfixia anunciada” como vemos na prática clínica os pacientes com Enfisema e DPOC, condição comum do Tabagismo. A fumaça como se sabe, impregnada de tantas outras substâncias tóxicas e cancerígenas, provoca outras patologias respiratórias e, por extensão, face ao conflito da hipóxia de longo tempo, o organismo em alerta responde com taquicardia e aumento da pressão para dar conta da carência de oxigênio. É como se o indivíduo subisse no topo de uma alta montanha onde a densidade de O2 rarefeita: aumento da frequência cardíaca e aumento da pressão arterial. Outra consequência da “asfixia anunciada” resultante da inspiração cotidiana da fumaça do cigarro é a insuficiência vascular periférica resultante da irrigação distal devido às “hemácias intoxicadas de CO2”, e pobres de O2, pois não foi permitida a devida troca nos alvéolos em que elas, as hemácias, jogariam fora o CO2 e receberia o O2, como manda a sábia natureza.

“Com bases em evidências mostradas pela situação do processo efetivo da asfixia, de certo modo, vendo um elo de ligação entre os diferentes cenários unidos pela “falta de ar, podemos dizer que tanto o Tabagismo, quanto o Covid-19 e a violenta morte de George Floyd por asfixia, se apresentam dentro do contexto fundamental da vida que é a necessidade e o direito a um ambiente saudável, com “ar para todos”. Daí ser o poema “I can’t breathe” um retrato deste triste momento, que serve para nos ajudar a tomar consciência de que respirar ou inspirar O2 e não CO2 nos leva a valorizar a vida dos homens da sociedade e do meio ambiente. Não que com isso resolvamos os grandes problemas que resultam no “mal-estar da civilização”, mas nos ajudará a minimizar a nossa insustentável leveza de ser e prosseguir nossa trajetória” finalizou Doutor José Mauro Braz de Lima.

Autoras: Maria Aparecida e Monique Santos, Jornalista.

Texto baseado em artigo escrito e divulgado pelo Dr. José Mauro Braz de Lima, PhD. (*) (2020), onde contextualiza situações atuais e aproveita a ocasião da Campanha da OMS sobre Tabagismo de 2020, que coincidiu com episódio da morte do afro-americano George Floyd por sufocamento (asfixia) (maio de 2020); acrescentando aqui a questão da preocupante crise ambiental provocadora da redução do nível de oxigênio na atmosfera (Crise do Clima e Aquecimento Global), inclui a atual e grave crise mundial da Pandemia do Covid-19 responsável por milhões de mortes em todos os continentes relacionadas com severa doença pulmonar (mortes por falência respiratória). Assim, tomando por base que tais situações que se interligam pelo fato do respirar, ou da falência deste, promove reflexão sobre o contexto comum que é a inexorável relação da vida com o oxigênio que começa ao nascer quando o recém-nato se desliga do organismo materno e passa a respirar… E segue assim até o fim da vida, até morrer, ou seja, até parar de respirar.

(*) Médico-Neurologista e Neurocientista, Professor de Neurologia/ Fac. de Medicina (UFRJ), pós-doutor em Neurociência (Univ. de Paris), Especialização em Dependência Química, Diretor Científico do Instituto Brain Connect de Neurologia e Neurociência, Diretor Médico da Clínica Evolução (Rio de janeiro).